quarta-feira, 21 de abril de 2010

ah vai, me diz o que é o sossego que eu te mostro alguém afim de te acompanhar



ela acorda. levanta. faz um café. de minas. fatia uns pedaços de queijo. de minas. arruma a mesa. senta na mesa pseudo-japonesa. percebe que esqueceu alguma coisa. levanta. liga a música. e pensa: eu deveria ter um vinil, como seria bom ter um vinil. e logo abre seu laptop. e escolhe em um segundo uma música entre 2349347 músicas. ela volta pra mesa. ela senta. seus pés tocam a almofada e ela levanta. puxa a almofada e senta sobre ela. coloca o café na xícara. ainda falta alguma coisa. ela lembra. e levanta. vai ao banheiro. pega o livro que está lendo. volta pra mesa e senta. empurra a almofada. está calor e o chão está gelado. ela sorri com essa sensação que vai além do seu pijama. abre o livro. enquanto pensa em qual página parou, toma um gole do café. e pensa: esse café vai esfriar. lê. lê. lê. come uma torrada com uma fatia de requeijão. lê. lê. lê. pensa que o café está morno e derrama mais um pouco na xícara. esquentou. olha ao seu redor. se vê sentada na sua mesa. se vê lendo "estorvo" de chico buarque. se vê ouvindo "encanto da paisagem" de nelson sargento. vê tudo no exato lugar que deixou. ela sorri. um sorrizinho de canto de boca. mas sorri. mas logo esquece o sorriso. e pensa. pensa que tem café, pensa que tem chico, pensa que tem sargento. e pensa o que mais pode querer. é um misto de sorrir e não sorrir. lê mais uma página do livro. toma mais gole de café. come agora só um pedaço de queijo. e timidamente algo vem a sua mente. olha ao seu redor. e pensa. tenta pensar em outra coisa. mas pensa. pensa. pensa. e aceita. já não é mais tão tímido assim. o que falta, o que falta. o que falta. é alguém do outro lado. dizendo: querida, traz o jornal e o chinelo.

****

"Encontrar aberta a cancela do sítio me perturba. Penso nos portões dos condomínios, e por um instante aquela cancela escancarada é mais impenetrável. Sinto que, ao cruzar a cancela, não estarei entrando em algum lugar, mas saindo de todos os outros. Dali avisto todo o vale e seus limites, mas ainda assim é como se o vale cercasse o mundo e eu agora estrasse num lado de fora. Após besta hesitação, percebo que é esse mesmo meu desejo. Piso o chão do sítio e caio fora. Piso o chão do sítio, e para me garantir decido fechar a cancela atrás de mim."
(Estorvo - Chico Buarque, 1991)

Um comentário:

  1. é... amiga!
    o sentimento não é só seu! não sei se isso consola, ou se aflige...
    mas podemos pensar simplesmente que somos amigas até nisso!

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