
eu. parada. de frente para o elevador.
ele.
-hey, segura a porta.
e elas se fecham.
eu.
-acho que foi mais rápido do que meu pensamento.
ele.
-não, acho que seu pensamento está bem mais rápido do que o elevador.
eu.
-é, acho que sim.
ele.
-você faz o quê?
eu.
-como assim, faço o quê?
ele.
-é, qual arte? dança, canta, pinta, atua?
eu. (com aquele sorrizinho de canto de boca =/).
-aaaaaaaaaaah. nãaaaaaaaao. sou economista. só estudo. faço mestrado.
ele.
-ah, então é isso.
eu.
-isso?
ele.
-sim, isso que está errado em você.
eu fico calada.
ele.
-qual andar você vai?
eu.
-no útlimo.
ele.
-mas no último é a administração.
eu.
-ah, então não sei.
ele.
-vai no quinto que vai te fazer bem.
eu.
-tá bom.
ele.
-tchau, fica bem.
eu.
-tchau, obrigada.
chego no quinto andar. me deparo com uma tela branca. e só. mais nada. fiquei olhando. rodei o andar todo. e voltei. era aquilo. era a tela branca. e só. engraçado. ou não. eu já tinha me deparado com uma tela branca antes. num museu. em nova iorque. mas lá. aquela tela lá não me disse nada. nada. eu pensei o que fazia aquela tela branca em um museu tão fino. e agora. ali no museu de POA. tão menos chique. a mesma tela branca. eu olhei pra ela. e saí para procurar outra coisa. e voltei. e olhei pra ela de novo. olhei sabendo que ela tinha que falar alguma coisa. e ela. ela imediatamente olhou pra mim. e significou tanta coisa. tanta coisa. tanta coisa! e fiquei pensando. pensando. pensando se o cara estava certo. não. ele não estava certo. porque a tela branca. a tela branca era pra me fazer bem. mas ela fez tanto sentido. tanto sentido. mas um sentido que sei lá. não sei se faz bem. nem todo sentido faz bem.
(e quanto ao que estava errado era o fato de eu ser economista. sei lá. isso vai demorar pra eu descobrir se ele estava certo ou não. e se eu devia ser artista. sei lá. isso vai demorar mais tempo ainda. que sentido teria um quadro branco pra um economista? e que sentido teria um quadro branco para um artista? e que sentido teria um economista pra um artista? e que sentido teria um artista pra um economista?)
Artista, economista, engenheiro, estudante, qualquer que seja a ocupação ou a desocupação do ser que, por ventura, se depare com este quadro branco (o qual eu nunca vi, embora tenha morado em porto alegre por dois anos), mas que fora descrito acima com tamanha precisão que me levou a crer que qualquer pessoa diante de tal quadro estaria livre como nunca estivera antes na vida. Livre para pensar na arte que quisesse, na vida que quisesse, livre para projetar nessa tal tela branca os mais íntimos desejos, os mais profundos sonhos, livre para pintar nesse quadro branco a sua própria alma... Para mim, um quadro branco teria esse sentido.
ResponderExcluirteria esse sentido e muitos mais outros sentidos... como por exemplo, que sentido teria esse cara ter entrado no elevador, no último segundo????
ResponderExcluirsó pra te mandar ir ao quinto andar ver uma tela branca?
que sentido teria o rapaz pra uma economista? e que sentido teria a economista pro rapaz do elevador? rsrs.